segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Um olhar sobre a arte



A Arte e o Artista


A palavra Arte deriva do latim ars, significa técnica ou habilidade, é por isso o produto ou o processo para realizar determinadas habilidades. Na actualidade, a Arte é vista como uma actividade artística ou o produto da actividade artística, o que poderia ser o produto final da manipulação humana sobre uma matéria-prima.
Segundo Ernst Gombrich, famoso historiador de arte, nada existe realmente a que se possa dar o nome de Arte, existem somente artistas. A arte é vista, por este autor como o resultado dum fenómeno cultural. A arte pode ainda ser vista como sinónimo de beleza ou de uma Beleza transcendente. Assim sendo, Arte pode ser qualquer coisa que assim seja considerado por alguém, não delimitado à produção feita por um artista.
Os historiadores da Arte procuram determinar os períodos que empregam um certo estilo ou estética por movimentos artísticos. A arte regista ideias e os ideais das culturas e etnias, sendo assim importante, para a compreensão da História do Homem e do Mundo.
Muitas formas artísticas podem extrapolar a realidade, exagerando coisas normalmente aceites ou simplesmente criando novas formas de se perceber a realidade.
Em algumas sociedades as pessoas consideram que a Arte pertence à pessoa que a criou; que o artista usou o seu talento intrínseco na sua criação. Outra maneira de pensar: a arte é um talento do artista, o seu dom individual. Esta última perspectiva é aceite pelos Judeus, Cristãos e Muçulmanos. Outras sociedades vêm a Arte como algo pertencente à comunidade. Assim, estes detêm a convicção de que a comunidade deu ao artista o capital social para o seu trabalho. Nesta visão, a sociedade é um colectivo que produz a arte, através do artista, que apesar de não possuir a propriedade da arte, é visto como importante na sua concepção.
A arte pode ainda ser vista como o campo do conhecimento humano relacionado à criação e crítica de obras, que evocam a vivência e a interpretação sensorial, emocional e intelectual da vida, em todos os seus aspectos.
A Arte é um elemento que acrescenta algo à vida, está relacionada com a memória e a experiência. É uma nova realidade da representação humana, em que a sociedade passa a ser a obra-prima da arte e onde o conceito de beleza se encontra no ideal de perfeição e imitação da natureza. A grande vantagem é que as obras de arte não envelhecem, são eternas, documentam uma realidade, uma época, um momento que fica para toda a vida.
O objectivo do artista moderno é fazer das suas obras um prolongamento da sua vida e da vida que o rodeia. O ser humano sempre teve e necessidade de imortalizar os momentos mais importantes da sua vida. A arte nasceu para suprimir essa necessidade, acrescentando mais beleza a esses momentos.
A arte transforma a nossa maneira de pensar, pois faz-nos repensar as nossas posições sócio-culturais e artísticas. Ela procura a análise dos objectos de arte e percursos históricos, pois de alguma forma a arte interfere na sociedade e ao mesmo tempo, recebe influências do meio em que está inserida.
Actualmente fala-se muito da reprodutividade técnica, o que fez ver a arte de uma outra forma, tanto do ponto de vista do espectador, quanto do criador. Segundo Walter Benjamim, esta possibilidade multiplicativa da arte, fere os valores que vêm a obra como a continuação duma experiência religiosa. A arte seria suportada por 3 elementos: aura, valor de culto e autenticidade. Estes três valores geravam a noção de beleza sobre a qual a estética clássica repousava. A obra de arte sempre foi reproduzível, discípulos copiavam visando o exercício e falsários almejando ganhos materiais. A Fotografia gerou a primeira revolução no que diz respeito ao papel da criação artística. Pela primeira vez a mão libertou-se das tarefas artísticas essenciais, no que toca à reprodução de imagens, as quais, doravante, foram reservadas ao olho fixo sobre a objectiva. Actualmente, as técnicas de reprodução atingiram tal nível de perfeição, que acabaram por se impor como formas originais de Arte. A homogeneização da arte, através da reprodutibilidade técnica, pela diluição da cultura e estereotipação do saber, atende a interesses essencialmente financeiros
A Arte não é só fazer, é também esperar. Picasso possui uma arte múltipla e prolífica, que representa a afirmação da vida. Não só varia o tema, como também vê o quadro como um abismo onde ele se lança de cabeça e uma vez possuído repele-o. No que diz respeito à autenticidade, ainda que as novas técnicas de reprodução não alterem o conteúdo da obra de arte, desvalorizam o seu valor de autenticidade, pois o que faz com que algo seja autêntico, é tudo o que contém de originariamente intransmissível.
A obra de arte possui diametralmente dois valores básicos: o valor da obra de arte como objecto de culto e o valor como realidade capaz de ser exposta. A produção artística destinada ao culto, demonstra que tão só a presença dessas imagens, tem mais importância do que o facto de serem vistas. Assim, a obra de arte assume-se como um instrumento mágico e só posteriormente é reconhecida como obra de arte.
O filme modificou ainda mais intensamente as interpretações artísticas. Enquanto no teatro, a aura do actor e da plateia modificam o resultado no palco, no filme é entregue aos espectadores que não causam qualquer influência na representação. O filme não pode propiciar ilusão senão em segundo grau, após se ter realizado a montagem das sequências. As técnicas de reprodução aplicadas à obra de arte modificam a atitude das massas diante da arte. Para as massas um Picasso pode ser reaccionário e um Chaplin progressista. A característica de um comportamento progressista, reside no facto de o prazer do espectáculo e a experiência de vida correspondente, se ligarem de modo directo e íntimo, à atitude do conhecedor. Esta ligação tem importância social. À medida que diminui a significação social de uma arte, assiste-se no público um divórcio crescente entre o espírito crítico a fruição da obra.
Segundo Walter Benjamim, na década de 30, século XX, vivia-se o nazi-fascismo e uma esperança, a revolução socialista. A primeira havia transformado a política e a guerra em espectáculos artísticos. A estetização da política e da guerra, transformadas em obras de arte pela propaganda e pelos espectáculos de massa (danças, ginástica, discursos políticos, etc.) visavam tocar fundo nas emoções e paixões mais primitivas da sociedade. A reprodutibilidade técnica estava ao serviço da propaganda de mobilização totalitária das classes sociais, em torno do “grande chefe”. A revolução socialista e a emancipação do género humano, levaram a arte a perder de forma positiva a sua aura, em detrimento da democratização da cultura, como direito de acesso às obras artísticas por toda a sociedade, especialmente pelos trabalhadores. A arte deixava de ser um privilégio de uma elite, seria um direito universal.
Embora o nazi-fascismo tenha terminado com o fim da Segunda Guerra Mundial, a massificação propagandística não terminou com ele: foi incorporada pelo estalinismo e pela indústria cultural dos países capitalistas. Assim surgia a cultura de massas.
O artista é o verdadeiro criador da Arte. O homem cria objectos para satisfazer as suas necessidades práticas (arte utilitária), como meio de vida, para que o mundo saiba o que ele pensa, para divulgar as suas crenças ou as dos outros, para estimular e distrair-se a si mesmo e aos outros, bem como para explorar novas formas de olhar e interpretar objectos e cenas. Ele coloca na sua arte o que não consegue colocar na própria existência, pois foi por se sentir infeliz que Deus criou o mundo. A solidão é a parte da pena que todo o artista autêntico sofre, por ser diferente do resto dos seus colegas. Segundo Óscar Wilde, a forma de governo mais adequada ao artista é a ausência de governo. A autoridade sobre ele e a sua arte é algo ridículo.
Todo o homem que encara a vida de um ponto de vista artístico, sente que o seu cérebro passou a ser o seu coração. Ser artista, pressupõe “pensar” com o coração, pois quanto mais se raciocina, menos se cria. A verdadeira essência do trabalho do artista é despertar nos outros a emoção, é deixar os pincéis da sua alma, pintar a sua própria natureza e realidade.
O artista em sintonia com o universo, pode através da sua arte, produzir obras que encantam, comovem, despertam emoções e sentimentos. A artista tem um poder especial que vai além das pessoas normais. É capaz de se sintonizar com o universo e trazer um pouco da sua beleza para o mundo em que vivemos. Dominar uma arte, aproxima-nos do Criador, por isso aqueles que deixaram obras inesquecíveis, têm entre si um traço comum – a humildade. Quem pretende vencer na Arte tem de ter certos cuidados, como afastar-se de sentimentos menos nobres, de gente inconformada e amarga e aproximar-se dos verdadeiros artistas. O artista deve viver a vida de forma construtiva e não destrutiva, pois a destruição não combina com o universo, nem com a verdadeira arte.
Ao longo dos tempos o papel do artista tem sofrido grandes transformações, sendo de recordar que aqueles que viram a sua obra imortalizada, tiveram uma vida difícil, por vezes sem lhes ser reconhecido o mérito, enquanto vivos. Alguns passaram necessidades, eram verdadeiros mendigos, enquanto outros eram apadrinhados por grandes fidalgos e reis (mecenato). Actualmente, ser artista pressupõe risco e falta de apoio, o que leva a que muitos talentos escondidos assim o permaneçam. Os apoios são poucos ou quase nenhuns, o que provoca nesta classe grande descontentamento face a uma sociedade tão consumista e tão pouco cultural, um governo capitalista, que deixam adormecer os criadores no silêncio.
A vida do artista foi alvo de reflexão por parte de vários autores, como é o caso de Vergílio Ferreira. Para o autor, o artista é maior do que Deus, pois o artista já tinha criado, antes de criar e assim não teve surpresas. O escritor, por exemplo, escreve no infinito e assim realiza a sua criação. O que o artista encontra é sempre a procura que está para além de tudo. Para ele, o que a arte nos ensina não é puro discernimento, é a relação mais profunda de nós próprios com o mundo, é verdadeiramente “o ver”. Há sempre um modo de ver que é o mundo estético. O mundo não é meramente objectivo, nem neutro, não se pode anular a presença do sujeito. A visão que temos das coisas é a nossa visão do mundo.
Fiodor Dostoievski no “ Diário de um Escritor”, explica como é difícil e atormentada a vida dum escritor. Sob a pressão da sociedade, o jovem poeta sufoca na alma o seu natural anelo de espraiar-se em formas singulares, receia que condenem a sua “ ociosa curiosidade”, reprime essas formas que lhe brotam no fundo da alma, nega-lhes a vida e atenção e arranca de dentro, entre espasmos, o tema que à sociedade agrada. Há talentos notáveis que prometiam muito, mas a quem a tendência corroeu de tal modo que lhes encaixou um uniforme. É muito difícil explicar a quem acredita na liberdade de expressão, no perfeito e no ideal, que o mundo está corrompido pelo dinheiro, política e poder. Que os homens não têm liberdade, senão aparente e que aquilo que é verdadeiro, como a arte liberal, abale e atinja os poderosos do mundo, ao ponto de calarem quem os contradiga.
Para Thomas Mann em “Doutor Fausto”, o artista em todos os períodos da sua vida permanece mais próximo da sua infância, do estado sonhador de criança e isto torna-o mais humano.
Para Georg Hegel, em Fenomenologia do Espírito, o artista não produz uma essência igual a ele mesmo, a sua obra retorna para ele uma consciência, pois a multidão que contempla a obra, honra-a com os seus espíritos. A admiração dos outros, pressupõe uma confissão feita ao artista, de que a obra não é igual a ele. O artista sabe que a sua operação vale mais do que a sua compreensão e o discurso dos outros.
A Arte permite ao Homem imortalizar a sua existência, deixar o vestígio da Humanidade. Ser artista é quase uma expiação neste mundo, pois perante a circunstância de serem diferentes do normal, de possuírem a inquietude existencial, os porquês que não acabam, o desajustamento neste mundo tão controverso, leva-os a sentirem-se abandonados numa tarefa ingrata de se ser criador e visionário. Estes homens e mulheres, que vêm a essência do mundo são esquecidos. Foram ao longo dos tempos considerados loucos e lunáticos, porque vêm o que os olhos dos comuns dos mortais não vêm, a destruição do mundo e a beleza real do universo. Não pediram ser como são, é um dom de Deus, uma cruz pesada que têm de suportar!

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